DIGGING
Guelra
Armando Pinho
JUNHO
19h
ARTE TOTAL
Mercado Cultural do Carandá
digging
"GUELRA" ARMANDO PINHO
ARTE TOTAL 2016
FICHA TÉCNICA
Concepção e interpretação: Armando Pinho
Supervisão Artística: Cristina Mendanha
Concepção de Vídeo e Imagem: Play Bleu
Consultoria de movimento: David Ramalho
Apoio dramatúrgico e consultoria: Sandra Andrade
Assistência de produção: Monique Augusto e Emília Correia
Agradecimento: Sr. Aníbal Afonso (cedência de espaço para o vídeo)
http://fotografiaplaybleu.blogspot.pt/
digging
"GUELRA" ARMANDO PINHO
ARTE TOTAL 2016
FICHA TÉCNICA
Concepção e interpretação: Armando Pinho
Supervisão Artística: Cristina Mendanha
Concepção de Vídeo e Imagem: Play Bleu
Consultoria de movimento: David Ramalho
Apoio dramatúrgico e consultoria: Sandra Andrade
Assistência de produção: Monique Augusto e Emília Correia
Agradecimento: Sr. Aníbal Afonso (cedência de espaço para o vídeo)
http://fotografiaplaybleu.blogspot.pt/
DIGGING
“Eu abandono Roma…”
Abandonar é deixar ao desamparo, deixar só, sem protecção, é largar, renunciar, esquecer, não fazer caso, pôr à margem.
Abandono quando deixo uma pessoa, uma coisa, um lugar, uma função.
Abandono e sou abandonado. Abandono-me e deixo-me abandonar.
O abandono é um estado, uma condição, um lugar.
Há lugares abandonados, lugares de abandono, lugares do abandono. Todos os lugares do abandono são feridas que calam e falam, ocultam e denunciam, abrem passagens para outros espaços e tempos. Nestes lugares abrem-se fendas que ligam exterior e interior, enigmas que intrigam e seduzem.
Os lugares do abandono fazem-me cavar fundo. Cavo por demanda e esquecimento e rasgo a ferida, que não a consigo suturar. I dig holes, I dig graves. E abandono-me ao seu fascínio, pelo seu brilho e sua negritude de abismo.
Jean-Luc Nancy explica, em “L’être abandonnée”, que o abandono é a condição de existência. Nascemos no abandono; somos definidos e destinados pelo abandono. Sempre o soubemos, de resto: Prometeu foi abandonado por ter roubado e partilhado sabedoria; Édipo e Moisés são filhos do abandono; Cristo é salvador por ter sido abandonado (Eli, Eli, lama sabactáni).
O fascínio da existência reside todo na ferida do abandono.
Abandono e amor estão interligados. Se só o amor abandona, será então na possibilidade do abandono que se conhece a do amor: “La seule loi de l’abandon, comme celle de l’amour, c’est d’etre sans retour et sans recours.”
Mas o abandono é também estado de liberdade. O abandonado, aquele que é posto à margem, o excluído, o fora da lei, fora da normalidade é, ao mesmo tempo, o libertado, o que se abre a todas as possibilidades. Os lugares do abandono são, por isso, lugares de desvio, contradição, destabilização, que confundem realidade e ilusão, matéria e potência.
O abandonado entrega-se à sua própria voz, à terra, ao presente, ao acontecimento… and just keep digging.
“Alguém abandona tudo.”
Armando Pinho
“Eu abandono Roma…”
Abandonar é deixar ao desamparo, deixar só, sem protecção, é largar, renunciar, esquecer, não fazer caso, pôr à margem.
Abandono quando deixo uma pessoa, uma coisa, um lugar, uma função.
Abandono e sou abandonado. Abandono-me e deixo-me abandonar.
O abandono é um estado, uma condição, um lugar.
Há lugares abandonados, lugares de abandono, lugares do abandono. Todos os lugares do abandono são feridas que calam e falam, ocultam e denunciam, abrem passagens para outros espaços e tempos. Nestes lugares abrem-se fendas que ligam exterior e interior, enigmas que intrigam e seduzem.
Os lugares do abandono fazem-me cavar fundo. Cavo por demanda e esquecimento e rasgo a ferida, que não a consigo suturar. I dig holes, I dig graves. E abandono-me ao seu fascínio, pelo seu brilho e sua negritude de abismo.
Jean-Luc Nancy explica, em “L’être abandonnée”, que o abandono é a condição de existência. Nascemos no abandono; somos definidos e destinados pelo abandono. Sempre o soubemos, de resto: Prometeu foi abandonado por ter roubado e partilhado sabedoria; Édipo e Moisés são filhos do abandono; Cristo é salvador por ter sido abandonado (Eli, Eli, lama sabactáni).
O fascínio da existência reside todo na ferida do abandono.
Abandono e amor estão interligados. Se só o amor abandona, será então na possibilidade do abandono que se conhece a do amor: “La seule loi de l’abandon, comme celle de l’amour, c’est d’etre sans retour et sans recours.”
Mas o abandono é também estado de liberdade. O abandonado, aquele que é posto à margem, o excluído, o fora da lei, fora da normalidade é, ao mesmo tempo, o libertado, o que se abre a todas as possibilidades. Os lugares do abandono são, por isso, lugares de desvio, contradição, destabilização, que confundem realidade e ilusão, matéria e potência.
O abandonado entrega-se à sua própria voz, à terra, ao presente, ao acontecimento… and just keep digging.
“Alguém abandona tudo.”
Armando Pinho